Então, naquela tarde gelada, deito e fico ali, olhando para a parede, esperando apenas uma resposta, uma ligação, uma mensagem. Na cabeça, repetindo mil vezes a mesma coisa: "Eu não to nem aí, nem gosto mesmo", mas apenas para ver se eu mesmo acredito na mentira que criei.
Aí vem a carência, a ausência, a vontade de estar com alguém que ao invés de te completar, te supra e te faça sentir inteiro por si só. Alguém que eternize aquele fim de festa de tal maneira, que o faz parecer um almoço no dia seguinte, e depois um jantar, e depois saudade.
Na realidade,é difícil aceitar o fato de não ter em quem pensar antes de dormir, e por isso, passo a acreditar qualquer pessoa está no nível suficiente para me fazer feliz. E é ai que peco. Não sou uma pessoa simples. Sou complexo, como qualquer ser humano, com qualidade e defeitos, vontades, sonhos. Não posso acreditar que qualquer chinelo velho possa calçar meus pés cansados. A diferença entre servir e ser perfeito é esta. E aí, dou sangue e alma por um chinelo que só protege meus pés do chão, mas que não oferece conforto algum.
Daí eu fecho os olhos e sigo no escuro, confiante de que se eu cuidar do meu jardim, um dia irá surgir algumas flores, que, se cultivadas com amor, serão belas e perfumadas. Uma hora ou outra, também aparecerão pragas, que danificarão parte do jardim. Serão diferentes pragas, que também vão precisar de amor. Talvez, um dia, uma dessas pragas vire borboleta, e aí sim meu jardim estará completo.
Cansei de procurar a pessoa ideal, de correr atrás de algo que idealizo antes de dormir. A partir de agora, investirei no meu jardim, e vou aguardar, com o coração aberto, uma borboleta para transformar o gelo deste coração em fogo novamente.
